Biblioteca
Escola Básica e Secundária da Ponta do Sol

Autores
Educação literária do 5.º ano:
Manuel António Pina

SABER MAIS SOBRE O AUTOR:
Quem foi e o que fez?
POEMA
Sou o pássaro que canta
dentro da tua cabeça,
que canta na tua garganta,
que canta onde lhe apeteça.
Sou o pássaro que voa
dentro do teu coração
e do de qualquer pessoa
(mesmo as que julgas que não).
Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
e canta por tudo e por nada
mesmo de boca fechada.
E esta é a canção sem razão
que não serve para mais nada
senão para ser cantada
quando os amigos se vão
e ficas de novo sozinho
na solidão que começa
apenas com o passarinho
dentro da tua cabeça.
Manuel António Pina
in “O pássaro da cabeça”

Porque esta história não é uma história inventada. É uma história verdadeira, aconteceu mesmo. Pergunta aos teus pais ou aos teus professores e eles contar-te-ão mais coisas sobre o País das Pessoas Tristes e sobre o Dia da Liberdade.
Manuel António Pina
in “O tesouro”
“O tesouro” é uma história de Manuel António Pina para todos sobre a LIBERDADE, o verdadeiro bem que devemos preservar e respeitar.
Há muitos anos, no tempo em que o teu pai andava na escola, num país muito distante vivia um povo infeliz e solitário, vergado sob o peso de uma misteriosa tristeza. O céu era alto e azul, os campos férteis, o mar e os rios cheios de peixes e de vida, as cidades quentes e luminosas, mas as pessoas que passavam entreolhavam-se com olhos tristes, caminhando apressadamente e sumindo-se dentro das casas; e quando se encontravam umas com as outras, nos cafés, nos empregos, na rua, falavam baixo, como se alguma coisa, um segredo terrível, as amedrontasse.
Manuel António Pina
in “O tesouro”

Excerto inicial
Livro-homenagem ao autor

EUGÉNIO DE ANDRADE:
CENTENÁRIO DO NASCIMENTO
(19/01/1923-19/01/2023)

Eugénio nasceu em Póvoa de Atalaia (19 de janeiro de 1923), aldeia da Beira Baixa onde passou a infância. Aos oito anos vive em Castelo Branco com a mãe. Ambos vêm para Lisboa, em 1932.

Em 1938 toma conhecimento da poesia de Fernando Pessoa, pela qual nutre um fascínio ilimitado. No entanto, a sua poética será oposta à pessoana, porque exalta o sensualismo, e a afirmação da corporalidade.

Poema XVIII
Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.
Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.
Eugénio de Andrade
Em 1942, Eugénio de Andrade dedica o seu primeiro livro à memória de Fernando Pessoa. Em 1943, instala-se em Coimbra e faz amizade com Carlos de Oliveira, Eduardo Lourenço e Miguel Torga. Em 1947, ingressa no funcionalismo público e em 1948 publica o seu livro de consagração, As Mãos e os Frutos. Nesta altura torna-se amigo de Mário Cesariny e Sophia de Mello Breyner Andresen
O Sorriso
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Eugénio de Andrade
Em memória da mãe, figura central na sua poesia, publicou o livro Coração do Dia. Outras publicações de relevo: As Palavras Interditas (1951); Até Amanhã (1956) e Mar de Setembro (1961). Para o Poeta, o real sempre esteve presente na sua poesia. Tinha a convicção de que a fundação da poesia assenta no real. Alguns poemas onde é mais notória esta tese: “Green God”, “Adeus”, “Os amantes sem dinheiro”, “As palavras interditas”, “Poema à mãe”, “Urgentemente”, “Litania”, “As palavras”, “Pequena elegia de Setembro”.
As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Outros poemas de Eugénio de Andrade
Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.
Do poema Até amanhã

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.
Do poema Coração habitado


Juventude
Sim, eu conheço, eu amo ainda
esse rumor abrindo, luz molhada,
rosa branca. Não, não é solidão,
nem frio, nem boca aprisionada.
Não é pedra nem espessura.
É juventude. Juventude ou claridade.
É um azul puríssimo, propagado,
isento de peso e crueldade.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Do poema As palavras interditas
Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.
Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!
Frente a frente

Eugénio de Andrade também se revelou notável prosador. Publicou alguns livros em prosa, tais como: Rosto Precário (1979), Os Afluentes do Silêncio (1968) e À Sombra da Memória (1993).
Como tradutor, destacam-se no seu trabalho: Poemas de Garcia Lorca; Cartas Portuguesas atribuídas a Mariana Alcoforado, Poemas e Fragmentos de Safo, e Trocar de Rosa, livro de poetas contemporâneos.
O Poeta organizou também diversas antologias poéticas, muitas delas de considerável êxito editorial, como por exemplo, a Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa (1999).
Desde 1950, passou a residir no Porto até 2005, ano da sua morte. Em 1994, passa a viver numa casa, apoiada pela Câmara do Porto, onde funciona uma Fundação com o seu nome. Foi nesta casa, no Passeio Alegre, na Foz do Douro, que faleceu em 13 de junho.
